sexta-feira, 31 de maio de 2013

Poemas malditos, gozosos e devotos - Hilda Hilst

IX


Poderia ao menos tocar

As ataduras da tua boca?

Panos de linho luminescentes

Com que magoas

Os que te pedem palavras?

 
Poderia através

Sentir teus dentes?

Tocar-lhes o marfim

E o liso da saliva

 
O molhado que mata e ressuscita?


Me permitirias te sentir a língua

Essa peça que alisa a nossas nucas

E fere rubra

Nossas humanas delicadas espessuras?

 
Poderia ao menos tocar

Uma fibra desses linhos

Com repetidos cuidados

Abrir

Apenas um espaço, um grão de milho

Para te aspirar?
 
 
(do livro "Poemas malditos, gozosos e devotos", Editora Globo)
 
 
 

quinta-feira, 30 de maio de 2013

A gema do sol - Domingos Guimaraens

Hemorragia


na hemorragia em fúria das ondas

estes gigantes de sal e lágrima

que se elevam da planície espelhada

como navios suicidas

 
no desfalecer da espuma em sangue e luz

nas tensões de fluorescências inconcebidas

na potência do rugir desta concha terra

na visão destes fluidos deslizantes

 
no estrondo do explodir dos corais

no desespero dos braços marinhos

em se agarrarem a última réstia de areia

me encontro aqui

náufrago em terra


(do livro "A gema do sol", Editora 7Letras)




quarta-feira, 29 de maio de 2013

Sofia em você - Monique Nix

VI ato

Já faz tempo, tenho planos.
Anos que sonho.
Desejos, tantos gostos.

Mas almejo muito pouco.
Até agora o que consegui? É cessado ao acordar.
Não sei como ir, mas sei aonde chegar.
O labirinto é perigoso.
Um sorriso, delicioso...
Desatenta as tentações.
Equilibrando minhas emoções.
Eu confirmo a fantasia,
Nefelibata – Noite e dia.
Vivendo na lua.
Morando na rua.
De neuroses eu me alimento.
Gosto amargo do sofrimento.
Desconfio da confiança.
Traumas, tramas, tranças.
Mas eu desato o nó,
e vou a busca do sol.

FERIDAS
DORES
ORGÂNICAS
NAS PARTES BAIXAS
TÃO BAIXAS
AO FUNDO
PROFUNDO
DO ÂMAGO
DA ALMA
CONFUSÕES
CONTUSÕES
CONVULSÕES NERVOSAS
LUTO CONTRA O LUTO
QUERO CORES AO INVÉS DO NEGRO
LUZ NA ESCURIDÃO
SORRISOS SEM LÁGRIMAS
CATEGÓRICO
NÃO HIPOTÉTICO
E ÓDIO
SÓ ÓDIO
SEM AMOR

Pois não vou mais viver para sofrer,
Nem sofrer por não ter.
A porta está aberta.
E eu acordo descoberta...


Monique Nix vulgo MONIX, 28 anos, é poeta/ensaísta/escritora em atividade com o blog no site do jornal Extra e publicações no espaço literário do jornal da ANF(Agência de notícias das favelas).