sábado, 27 de julho de 2013

Dialética - Monique Nix

I ato

Suborno Divino

Tenho carro, somente dor, uma ilha, e um analista.
Quando eu morrer vou direto para o céu
Quero tudo programado, descrito num papel,
E só vou aceitar se for o melhor do paraíso.
Aonde estão todos os santos, os puros, os sábios, meus amigos
Minha linhagem.

Vou pagar propina a Deus
Pra morrer melhor!
Vou pagar propina a Deus
Pra viver melhor!
Vou pagar propina a Deus
Pra morrer melhor!
Vou pagar propina, propina...

Se não aceitar
Aumento o valor
Caso não concorde
Renegocio o acordo
Mas se não fechar
Demito ele
DEUS vai para o INFERNO
E o DIABO assumi o antigo cargo dele

Vou pagar propina a Deus
Pra morrer melhor!
Vou pagar propina a Deus
Pra viver melhor!
Vou pagar propina a Deus
Pra morrer melhor!
Vou pagar propina, propina...
 
E por JUSTA CAUSA o DIABO foi promovido
Quem acha que é DEUS para não me dar ouvidos?

Quanto será que custa DEUS?
Qual é o valor da morte?
E o preço da sorte?
Em quantas prestações eu pago meu DESTINO?

 

II ato

 
Ó ignóbil ser andrógino, que por ser sábio, pensa que sabe?

Qual é o verdadeiro conhecimento? Sua meretriz informativa!

Sua posição é delimitação, contraposição. O que há de verídico num mundo padronizado?

Diga o que sonhas ,que direi quem és tu, fidedigníssimo ser desprezível.

Perdoai vossa/nossa estupidez humana, que infelizmente herdamos de caracteres desse nosso DNA ,cujo denomina conservadorismo.

 

III ato

Pandemia

 
Espero que entenda, porque sou assim.

É endógeno... Está em mim!

Não tenho sangue de barata, nem de cor azul.

Não preciso provar nada para ninguém!

Logo não aturarei desdém.

 
A alma é um moinho de vento

Sopro divino vetorial

Que assopra pensamentos

O pensamento é um ensaio para ação

É pura decepção!

Pois o Superego ele não deixa, ele bloqueia:

Meu instinto, meu organismo, meu ser primitivo.

Não quero ter razão o tempo todo...

Sentir é muito mais espirituoso!

Toda vez que nos realizamos a nossa áurea muda de cor,

Purifica dor.

 
Espero que entenda, porque estou assim.

É endêmico... Fuja de mim!

Cozinhei demais minhas vontades

Hoje o desespero é uma necessidade.

Vomitando poesia

Eu cuspo na hipocrisia, que logo cai na minha própria testa.

Pois eu só TENTO ser honesta.

 
Espero que entenda, porque fiquei assim.

É epidêmico... Corra de mim!

Fuja enquanto há tempo,

Pois posso te contaminar a qualquer momento

Com meus tormentos, com meu sofrimento...

Mas quem nunca chorou?

Quem não sente dor?

 
Espero que entenda, porque mudei.

É pandêmico... Eu me equivoquei!

Eu tive que mudar de planeta!

Eu tive que mudar de faceta!

Para me libertar!

Para me salvar!

Pois a depressão é uma doença altamente contagiosa.

É imune da lógica.

Mas podemos mudar essa narrativa,

Pois somos os autores de nossas vidas.


(da "Revista Passarinho" - no. 1 - 2013)


  
           

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