terça-feira, 23 de julho de 2013

Taiyo Jean Omura

Sentinelas da noite escondidos em nuvens

sentinelas da noite escondidos em nuvens

um silêncio afogando os prédios

cães em outro bairro debatem o tempo

mães em silêncio sonham no passado


gatos brigam na beirada de muros

algum grilo desaparece de si mesmo

no japão já é outro dia

coração ainda bate acelerado

era pra cidade dormir agora

mas os prédios insistem em sonhar


uma moça tira o sutiã

coloca o pijama

e desliga o computador


parece algum alarme de carro

lá no final da rua

ou será minha respiração?


nessa noite tão escura

escondem no asfalto preto dessa rua

um suave leito da visão


pareceu um navio atrás do morro

e nem estou dormindo

sonho acordado submerso em vida

ou a vida sonha com o verso findo?

 
escuto meu coração batendo fora de mim

nas paredes e no teto

bate também por entre os prédios

é com o coração que arquiteto

 
sonhos sólidos

metro a metro

até chegar

 
longe do perto

 
 

um dos meus avôs veio do pantanal. o outro veio do japão. nasci na holanda. sou brasileiro. nasci num clube da esquina. no encontro de várias ruas. andei de skate. coloquei o pé no pacífico. vi a torre eiffel ascender suas luzes. numa paris sobrenatural

 provei vinho de mendoza. senti a brisa de uma geleira derretida. pelas bandas do canadá. tremi com um terremoto na costa rica. e subi num vulcão lá. dizem que três vezes por ano. quando o céu está totalmente aberto. dá pra ver o pacífico e o atlântico

 indefinir o longe e o perto. de cima daquele vulcão. um dia quero ver...

 já morei em frente ao mar. já quase me afoguei. tive amores imaginários. alguns amores deixei. vi um céu muito estrelado. de dar dó. lá em visconde de mauá

 e a cachoeira mais bonita aquela. acho que foi em serra do cipó. parecia um lugar de sonhos. de repente era. não canso de ver. o horizonte do arpoador. olhar o mar sem pressa. seja de onde for. funciona pra mim como uma reza.de repente é...

 quando eu nasci. uma anja loira, alta, holandesa disse: vai, Taiyo! ser outros na vida

 navegar é precioso. vai ser outros. outras pessoas. fazer poesia. do pantanal eu trago uma pré-história. um gosto de antes dos começos. como tocar no mar pela primeira vez

 achar os olhos da mãe e do pai quando bebê. do japão tem um olhar invertido. olhar o que está dentro. do brasil eu colhi um sorriso. a alegria de estar vivo. da holanda um olhar subversivo. como jogar uma bicicleta num canal.

 nasci mesmo foi numa esquina. na esquina entre o bem e o mal. caminhando em saltos

 pulando moças, cheiros, apartamentos. até encontrar aquela visão. que eu tinha desde pequeno. até ver o meu sol. viver, meu nome, viver. escrito em corpo de mulher.

 até encontrar carol



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