segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Poemas de valter hugo mãe - valter hugo mãe



A capitalização do amor


não escondemos que atendemos a
capitalizar o amor, entregando
amplamente os nossos melhores
momentos às raparigas mais carentes.
o amor, sabemos bem, é o caminho directo
para a inutilidade, e nós procuramos as
raparigas que mais rapidamente se
inutilizem perante as coisas clássicas
da vida. não nos queremos atarefar com
a vulgaridade, e gostaríamos até de
impregnar cada gesto com características
alienígenas, mas o tempo escapa-se e o
dinheiro também e, se só pensamos no amor,
não temos como fazer de outro modo
senão vendê-lo entusiasticamente, como
fontes de trovões bonitos jorrando nas
praças mais movimentadas das cidades. e
as raparigas correm para sob nós urgentes
a cheias de vida, férteis de tudo quando o
amor se abate sobre elas. e uma alegria rica
de se ver, e nós a balançar os braços para
chamar a atenção de mais e mais e
já nem sabemos como parar. somos forças
incontroladas, à semelhança de mecanismos
ferozes da natureza, e só sairemos daqui
quando desfalecermos de amor até
pelas raparigas mais feias


(do livro "Portugal, 0", Oficina Raquel)



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