quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Diário do ventríloquo (primeira noite) - Ademir Assunção

Chacina never stops

troia destruída, restam-nos
as ruínas de Bagdá, chuva de mísseis,
capacetes made in united states
of américa, mãos decepadas e olhares
que ainda miram lugar nenhum, talvez
a névoa sob um céu de escombros,
picotada por rajadas de fuzis fabricados
numa pacata cidadezinha do texas,
moloch esculpido na retina intacta, dervixe
do terror com os olhos vazados, crucifixos
radiativos lançados sobre cabul
por um helicóptero ianque, pearl jam,
iron maden e nirvana a todo volume
no headphone do soldado imberbe, casas
incineradas, embaixadas fumegando,
sonhos da noite passada retalhados
antes que a luz do sol pudesse
iluminar o caminho de volta, o retorno
a uma ítaca estampada nas páginas
de um gibi amarelado, ou de um jornal
que embrulha o peixe na feira, ante
o espanto da velhinha aposentada
que sempre se queixa da alta dos preços


(do livro "A voz do ventríloquo", Edith) 




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