domingo, 2 de fevereiro de 2014

Retrato do artista quando coisa - Manoel de Barros



Retrato do artista quando coisa


Não ser é outro ser.
Fernando Pessoa

1

Retrato do artista quando coisa: borboletas
Já trocam as árvores por mim.
Insetos me desempenham.
Já posso amar as moscas como a mim mesmo.
Os silêncios me praticam.
De tarde um dom de latas velhas se atraca
em meu olho
Mas eu tenho predomínio por lírios.
Plantas desejam a minha boca para crescer
por de cima.
Sou livre para o desfrute das aves.
Dou meiguice aos urubus.
Sapos desejam ser-me.
Quero cristianizar as águas
Já enxergo o cheiro do sol.


(do livro “Manoel de Barros – Poesia Completa”, Editora Leya)



Um comentário:

  1. Gostei da ideia do blog. Gostaria que me visitasse no meu blog Dizeres Poéticos - deslimitespoeticos.blogspot.com.br - para trocarmos informações sobre poesia e outras artes. Abs.

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