quinta-feira, 27 de março de 2014

Amoramérica - Os Sete Novos



Brazil


E a normalidade começa com Nadam Guerra procurando um ovo vermelho.
E essa secretária eletrônica desdentada que não para de rabiscar na massa encefálica. Blame it on samba. E as araras não param de fazer amor. New York nos parece a cidade mais andrógina do mundo, tanto quanto essa classificação de cidades que soa totalmente estranha. Os Estados Unidos ainda esperam pela amamentação gerada por essa fixação em peitos? Todo sorriso é igualitário.
O grande problema, nos parece, é que o silicone não dá leite e a maioria das amas de leite já foi deportada para Libéria. As leiterias alucinógenas da Laranja Mecânica acabaram de fechar. E o verdadeiro Clockwork Orange é o Brasil: uma locomotiva desenfreada em que, sem explicação, alguém puxa a alavanca. Ela parte em direção contrária. O verdadeiro Brasil. O Clockwork Orange para Oswald somos todos nós. E o que acontece com uma pessoa amamentada por silicone? Nasce Americana. Os Americanos acreditam no êxtase messiânico da cenografia. Nossa alegoria é apenas delírio.
Terry Gilliam - que nasceu em Minnesota (o reino do trovador desterrado, Bob Dylan) - foi o estrangeiro que melhor entendeu nosso país, o caos acontecendo com fuzilamentos amorosos de polícias torturadoras nesse coração esburacado pelo garimpo na serra pelada do coração da América. PM, FIB, BOPE e CIA: quem levará para longe nossos novos minérios do amor? Para a Estrela o Snake-Eyes sempre fez parte do Cobra, só porque se vestia de preto e era mudinho. E quanto à zoológica do multiculturalismo o gueto epilético já tem seu papaideuma: Machado de Assis rules! Pará nãná nãnánãná / pará nãná nãnánãná / return I will / to old Brazil toca na sala de espera e no evangelho apócrifo de Jesus Cristo, no antepenúltimo dia, naturalmente. E se Harold Bloom fosse soteropolitano jogaria búzios e o Cânone Ocidental seria a coisa mais bonita de se ver.
E se existirá mesmo a geração 00, pós-diluviana, ou pós-internet, pós-pós-tudo, para os Norte-Americanos a amizade é uma cerca de arame farpado com carne mexicana (chili com sensualidade). Não é assunto de se domar no tédio. Não existe simbólico nenhum aqui. O importante é ser celebrado, entende? É luminoso, mas está em um museu. Se nenhum índio o pratica, o que sobrevirá não é o discurso, mas o poético, sob todos os discursos. Só o neoxamanismo californiano sabe o que o chocalho é um belo acelerador de partículas. Sobrevoará e irá se autofestejar enquanto pluma no jardim de cowboys noturnos e pulsações de caracol. Atrás de todo espelho tem um espelho da CIA. Evoé!


(do livro "Amoramérica", Editora 7Letras)



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