quarta-feira, 19 de março de 2014

Pele tecido - Ericson Pires


Canto II

Vai
É teu tempo que parte
Vai
É teu gesto que meneia
Vai
É tua sombra que continua

O instante é a única medida agora

Vai
Costura o meio por agora
Rasga o meio pelo agora
Penetra o meio por agora

Ir-se:
            Sobra diante do instante

- nada será possível como antes
  todas as coisas serão simples como são -

vai
as linhas invadem o tempo

minha época é costurada
                                               meu exílio
as linhas repartem o tempo

meu passado é o agora
                                               retirado
meu limite é o instante
                                   não poderá se repetir

escapar aos momentos

costurar
            o manto do dia no sorriso que se impõe
costurar
            cada remendo cada pedaço cada pano
costurar
            as pontas do dia nas pontas do dia

vai
sem querer voltar
sem pedir de volta
sem partir de novo

porque assim estarão teus ir-ses costurados no instante
porque assim estarão teus ir-ses imantados no agora
porque assim estarão teus ir-ses remendados no momento

vai
esse será o sentido

o único sentido que se deve reconhecer
o único motivo que se deve ter
o único ponto que se pode chegar

não olhe jamais para aquela janela que está fechada
não olhe jamais para aquele sinal que foi ultrapassado
não olhe jamais para aquele rumo que irá ser tomado


vai
e
esqueça a linha que te segue
                                 te cega
                                 te trança

não há costura que te possa


(do livro "Pele tecido", Editora 7Letras)


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