quinta-feira, 3 de julho de 2014

Quarta parte: Avenida Eros - Flávio Corrêa de Mello



Poema suíço


para Sílvio Barros


Calafrios
pensamentos velozes
solidão
limite, crimes.
Poemas de crimes.

É ver-se no espelho
quando a pele seca de frio
ver no espelho daquela casa velha
cheia de estalos, ruídos, rezas

que não desmorona
sobrevive no frio
sobrevive carcomida
em hemorroidas & furúnculos
e corrói, corrói, corrói...

Eu moro lá
são duzentos anos
de fantasmas e histórias funestas.

Comida de porco & batata
o gosto de vinho bebido
da boca de outros
na comida de outros.

Aquela mulher me visita
é uma tarde viscosa
avermelhada e fria.

Tem rosto moreno
e cílios longos,
perfil de marroquina
e olhar sedutor,
salta da parede repleta de teias
emaranhadas alamandas afiadas
brotam de suas coxas,
entrelaça,
deixa cheiro de novidade.

No alpendre da escada derrubamos flores
na grade da janela ouvimos discos
dançamos silenciosos nas paredes
os corpos sobrevoando
nas luzes da cidade cinza
o nosso gozo nas mais novas alegrias.

Depois, são lembranças
na hora de levantar.
O dia corre
e não há mais tempo de ter tempo.
É outro sonho que gerou
outra ilusão.


(do livro "Poemas suíços", Ibis Libris)



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