sábado, 20 de dezembro de 2014

Hildebrando Pérez Grande



A noite


A noite é uma superstição. Um lençol
brilhante que se enruga como os dias da semana.
Vã moeda oxidada pelo tempo.
A noite é um abraço que se abrasa no alento
sedoso de um acaso, ou a amada invencível
que marcha de vento em popa rumo a seu acaso. A noite
não é manancial que se possa mencionar
sem guardar rancor em alguma taverna abandonada.
Nós somos a noite: nós e a não a pele
leitosa que os cegos chamam madrugada. E
no íntimo tremor do que já foi revelado, estala
um sol noturno: úmida clarividência onde floresce
algum pressentimento de carne e osso e fantasia.
 

La noche


La noche es una superstición. Una sábana
brillante que se arruga como los días de semana.
Vana moneda azul herrumbrada por el tempo.
La noche es um abrazo que se abrasa en el aliento
sedoso de um acaso, o la amada invencible
que se marcha a toda vela hacia su ocaso. La noche
no es manantial que pueda mencionarse
sin guardar rencor en alguna taberna abandonada.
Nosotros somos la noche: nosotros y no la piel
lechosa que los ciegos llaman madrugada. Y
en el íntimo temblor de lo ya revelado, estalla
un sol nocturno: húmeda clarividência donde floresce
algún presentimiento de carne y hueso y fantasia.


(do livro “Poetas hispânicos”, traduções: Marcelo Reis de Mello, Editora Cozinha Experimental)



Nenhum comentário:

Postar um comentário